SABORES DA VIDA

por Sonia Hirsch

 

QUANDO A NUTRIÇÃO VIRA ARTE

 

Suco de clorofila, grãos germinados, grama de trigo; rabanetes, cenouras e abacates; creme de manga, creme de goiaba, bolinhas de mamão passadas'em coco ralado; folhas de cenoura, brócolis, agrião, chicória, couve, e muita gente se mexendo em volta. Corta, rala, bate, espreme, tira a casca, pergunta, explica, dá risada, no fim todo mundo come e vai para casa feliz e satisfeito.

Curso de culinária? Não, de desenho industrial.

De vez em quando acontece: algo que sempre existiu aparece de forma nova e deixa todo mundo maravilhado. E o que está rolando agora com o BioChip, em pleno departamento de artes da PUC-Rio, sob a batuta de Ana Branco.

O BioChip é um grupo aberto de estudo, pesquisa e desenho com modelos vivos. Vivos como? Assim: de noite você pega um punhado de sementes de girassol, por exemplo, põe num vidro transparente de boca larga, tampa com um pedaço de filó preso por um elástico e enche de água. De manhã escorre e deixa o vidro inclinado, de boca para baixo, de forma que nenhuma água se acumule. De noite torna a lavar e escorrer, de manhã idem, e depois de dois ou três dias surge em cada grão um rabinho indicando que ele brotou. Nesse momento seu valor nutricional está potencializado — 20 000 vezes, diz Ana - e não precisa cozinhar, temperar, fazer nada: é só tirar a casquinha, já aberta, e comer.

Outro modelo vivo: encha uma bandeja com terra viva, isto é, rica em compostos orgânicos, e espalhe grãos de trigo por cima. Cubra com uma camadinha de terra e umedeça todos os dias. De repente vão surgir brotinhos verdes, que crescem muito rápido e viram uma graminha intensamente verde. Esse verde é a clorofila, pigmento produzido pelas plantas em contato com a luz do sol. E, aí, deixa crescer para virar trigo, moer e fazer pão? Não, corta a graminha quando ela tiver uns 10 cm e põe no suco. A clorofila dentro do corpo se transforma em hemoglobina e renova o sangue, e o que sobra na bandeja vira composto e enriquece a terra.

Todos os vegetais comestíveis da natureza são modelos vivos para serem utilizados desenhos e composições saboreáveis. O aluno os observa e faz leituras quanto a formas, cores, sabores, texturas e odores. Qual a diferença entre desenhar com pigmentos coloridos dos numa tela e desenhar com pigmentos coloridos num prato de salada ou de frutas? Segundo Ana Branco, "as cores das frutas, hortaliças e sementes, geradas pela vida na Terra recuperam no nosso corpo informações matrísticas, isto é, relacionadas diretamente com a nossa origem enquanto mamíferos, através códigos não verbais". Daí o nome BioChip. Um chip armazena informações. O biochip nos recarrega de informação viva.

Tanto isso é verdade que várias pessoas doentes, com prognósticos médicos os mais pessimistas, se recuperaram tomando suco clorofila de hora em hora e comendo somente alimentos crus, germinados, brotados, fermentados. Agora se sentem felizes, profundamente ligadas à natureza, cheias de energia, vitalidade e vontade de ensinar. Armam junto com Ana Branco e seus alunos a barraca BioChip em feiras, mercados, hortas orgânicas, pomares, escolas, ficam fazendo suas saladas, amornados. desenhos com frutas tudo é delicioso. Quer provar?

Receita de suco de clorofila, ou Luz do Sol bata no liquidificador um pepino pequeno uma maça grande sem sementes, ajudando com um secador para soltarem sua própria água. Acrescente um punhado de grãos germinados, raízes, tubérculos e outros vegetais, grama de trigo e muitas folhas verdes. Coe tudo num paninho tipo fralda, espremendo bem, e está pronto. Tintim, saúde!

Mais informações:

ana.branco@uol.com.br, anabranc@rdc.puc-rio.br e

http://wwwusers.rdc.puc-rio.br/anabranc

BONS FLUIDOS ED. Abril - Fevereiro 2001

A jornalista e pesquisadora Sonia Hirsch é autora de livros sobre culinária natural, alimentação

 

 

Alimento vivo: o chip da vida
Suco verde, grãos germinados, arte na horta: a professora Ana Branco ensina a brincar com a comida e depois comer a arte que revitaliza o corpo e a alma

Por Alessandra Nahra

 

 

Ana Branco é uma professora diferente. Para começar, ela desafia a antiga lei doméstica que sempre proibiu as crianças de brincar com a comida. Ao contrário, Ana Branco é uma mãe para esses "arteiros": ela ensina e estimula seus alunos (já bem crescidinhos) a brincar de fazer arte com a comida. Uma brincadeira com muito amor e respeito pela Terra, a mãe de todos nós e de frutos que oferece tão generosamente para que tenhamos o alimento, a vida, a brincadeira.

Professora do Departamento de Artes da PUC-Rio desde 1981, Ana Branco orienta o BioChip, grupo que investiga as cores e a recuperação da informação através do desenho com modelos vivos. Estes modelos vivos são rabanetes, abacates, mangas, alfaces, cenouras - sementes, frutas e hortaliças, de preferência fresquinhos. Com os alunos, Ana vai até hortas orgânicas onde "conversar" com os vegetais. Trocando e recebendo informações direto da fonte original, a arte nasce da vida. "Através da interação dos modelos vivos com o observador, são feitas leituras quanto às suas formas, cores, sabores, texturas e odores. Os frutos da Terra recuperam no nosso corpo informações matrísticas, que podem ser decodificadas a partir do contato direto, não verbal, presente nos alimentos vivos", explica o folheto do BioChip. Em outras palavras, os alunos fazem arte com a comida viva e depois apreciam com todos os sentidos, incluindo o paladar, o gosto que a arte tem.

 

Mas por que se chama BioChip? "Chips de computadores são moléculas de água que contém silício. Sementes também. Dentro delas, há informações sobre a vida na Terra. O contato com o chip vivo recupera o processo criativo do humano, nos reconectando com os outros, com os animais e com o planeta", explicou Ana em recente palestra em Porto Alegre, durante o Fórum Social Mundial. 

As idéias de Ana ultrapassam os limites da academia, gerando arte viva que flui para dentro das pessoas. É isso que se percebe ao vê-la em ação, explicando com o corpo e coração a missão da sua vida. Ana Branco come diferente da maioria dos humanos contemporâneos e economiza um dinheirão em gás. É que ela nunca cozinha - mas isso também não quer dizer que come fora todos os dia. Ana só come Alimentos Vivos, ou seja, crus e brotados. Segundo ela, cozinhar alimentos rompe a molécula de água que reveste o silício - e aí, já viu: adeus informação, adeus BioChip. O chip perde a água molecular e a informação não é mais acessada. O que equivale dizer que a conexão com a Terra se rompe e o homem se mantém em processo de dormência. "E isso é interessante para a manutenção da guerra em que vivemos, para a relação de ataque e defesa que estabelecemos dentro de nosso eco-sistema, de nosso corpo. Só que agora acabaram-se as guerras e vamos ter que re-aprender a viver em paz, como nascemos". 

 

As sementes, alcalinas, começam a se acidificar assim que se afastam da planta. Este processo acontece com quase tudo que alimenta o mundo. Transformamos, cozinhamos, congelamos, microondeamos a comida. "Pela acidificação nós nos desnaturamos, nos afastamos da natureza, a do planeta e a nossa. Esquecemos que somos mamíferos, alegres, cooperativos. Adoecemos porque nos afastamos da origem. Os alimentos cozidos desencadeiam no organismo humano estruturas viciantes. Isto é, cada vez mais o organismo deseja doses mais ácidas, e essa acidez gera euforia e depressão exatamente como acontece com as drogas."

Então Ana pesquisou e agora ensina maneiras de trazer a vida de volta à nossa vida. Ela não recomenda que ninguém pare de comer do jeito que come e opte imediatamente pela alimentação crua, porque, segundo ela, nossa intoxicação é imensa e seria um choque para o organismo, tal qual uma desintoxicação de drogas pesadas. "Dentro da Alimentação Viva, tudo o que estamos acostumados a comer são drogas: açúcar branco, mascavo, pão integral com tofu, peixe grelhado, caldinho de feijão com arroz, biscoito de água e sal, sorvete de creme etc". Isso porque os alimentos industrializados e as misturas de amido com proteína são altamente acidificantes, causando dependência. Mas Ana não "prega" a sua maneira de alimentação. Segundo ela, é "só para os que escolhem ser o que sempre foram". No entanto, ela dá receitas para que qualquer pessoa possa incorporar a força dos alimentos vivos no dia-a-dia, mesmo que não tenha intenção nenhuma de abandonar as delícias cozidas. 

As duas principais ferramentas são os grãos germinados e o Suco de Luz do Sol. "Precisamos fazer o caminho contrário do que fizemos até aqui, pelo qual acidificamos ao máximo nossa comida. Quando a semente germina, torna o solo e tudo o mais alcalino, e alcalinização é igual à revitalização. Quando molhamos a semente, a dormência se rompe e libera a informação, ampliando o valor nutritivo em 20 mil vezes". Sementes e grãos germinados são a base da alimentação de Ana. Puros, misturados, transformados em

Suco de Luz do Sol, que vem a ser clorofila pura, luz do astro rei que alimentou e foi transformada pelas plantas verdes. "Esse tipo de alimento é capaz de mudar o comportamento das pessoas, por causa da oxigenação intensa do cérebro". O suco verde entra no sangue e em 15 minutos se transforma em hemoglobina, acelerando processos de cura e desintoxicação. "Tomando o suco de Luz do sol todos os dias, voce vai aos poucos recuperando quem voce sempre foi. Nào precisa ter pressa, basta ter ritmo". E é um remédio poderoso, diz Ana, que pode curar tudo. Dor de cabeça, dor de barriga, pele seca, diarréia, cocô duro, gripe - das mais fáceis até as mais difíceis. Aids? Cura, garante Ana. Câncer? Cura também. A pessoa está em coma? É só levar o liquidificador para a UTI e dar suco de Luz do Sol de hora em hora até que a pessoa levante do transe. Ana garante. Ela já viu. E você pode ler nos depoimentos no site dela, clicando aqui

E depois? Depois é passar adiante a informação para quem precisa do santo remédio. Porque, não se engane, é presente da mãe Terra, é presente de Deus, quase de graça (moço, quanto custa a folha de abóbora?), independente e auto-suficiente. Presente baratinho porém mais valioso que muito diamante quando a maior riqueza é saúde e vida vibrante e criativa, atributos naturais dos mamíferos - e por tudo isso, por esse tesouro reconectado, estamos desde agora sempre plenamente agradecidos... 

http://wwwusers.rdc.puc-rio.br/anabranc/portugues/home.html